Um pássaro com a cabeça em minha testa, as asas em meus olhos. Ah, sim, a cabeça no terceiro olho. Um livro deve ser interessante. Mas deve ser mais do que isso. A lombada dele no nariz. Suas páginas no lugar dos olhos. O livro é próximo a um pássaro. Acredito que o pássaro cumpre, o máximo que pode, seu tempo de vôo. E o livro tenta voar o mais alto possível, se é um livro de coragem, seja ele de mecânica, biologia ou literatura. Os literatas parecem com os pássaros que voam como passa-tempo, daqui para ali, com tédio ou em êxtase, pegando ventos para flutuar… Os livros científicos parecem gaviões pragmáticos e determinados, resumidos. A cada batida de asa, a cada virar de página, a visão pode mudar. A posição da cabeça do pássaro e aquilo que dá unidade ao livro podem mudar, de acordo com essa visão. A experiência gostosa de rolar as páginas de um livro com os dedos, pressentindo seu conteúdo, lembraria um pássaro dando piruetas laterais. Eu nunca vi tal cena, embora o homem faça algo parecido com o avião, na esquadrilha de fumaça. Para quem vê, é excitante, enquanto pensa na náusea ou em que estaria na mente do piloto. As páginas passam, do meu cérebro esquerdo para o cérebro direito, que lê as entrelinhas e decide se o livro presta ou não. Mas o equilíbrio define o voo perfeito. No meio do livro, no cérebro do pássaro, um senso divino que se equilibra numa slack line que é estreita mas elástica. O livro e o pássaro se tornam um com ela. Ela pode traçar qualquer caminho. Não deve nada a ninguém. Deve a si mesma apenas o que apenas ela pode fazer.