Filmes Encontros de desencontros

Ontem assisti Encontros e Desencontros, de Sophia Coppola. Um encontro improvável entre um homem de meia idade e uma jovem. Improvável pelas características do encontro, não pela questão de idade… É a moça (Scarlet Johansson) quem toma as atitudes. O cara (Bill Murray) está até letárgico em sua viagem de trabalho ao Japão.

O homem é casado, a moça está lá com o namorado. A moça se diverte com o fato de que ele está na crise de meia idade. Curioso notar que os dois não falam muito sobre suas vidas profissionais, especialmente o cara. Mesmo assim, a moça demonstra interesse pelo que poderia estar atrás do que ela vê dele. A moça estudou filosofia, quer ser escritora mas não gosta do que escreve. Parece que ela curte o jeitão sonso do cara. No início do breve relacionamento entre os dois, o cara faz, em tom de brincadeira, uma proposta de “fugir”, que ela aceita graciosamente. Nessa brincadeira, que dá um vislumbre de que, além de se sentirem estranhos no país, o sentem em suas próprias vidas e com o seu mundo nos EUA, funda-se o tempo que passam juntos.

Eles vão viver aventuras com um interessante espírito de diversão. Ela gosta de maturidade dele, ele gosta de sua juventude, mas isso não atrapalha a diversão de ambos. Vivem momentos intensos e passam a gostar um do outro, mas sabem que suas vidas dificilmente poderiam realmente juntar-se.

A passividade do homem é muito interessante, talvez ela demonstre que ele já conhece o complicado caminho da traição, ou que está acostumado com mulheres lindas interessando-se por ele. De qualquer forma, é interessante pensar o que o homem pode representar, ensinar ou oferecer para uma mulher e vice-versa, quando conseguem suspender os estereótipos sexuais, no caso, homem/ativo, mulher/passiva. Talvez um consolo profundo, ou uma compreensão importante, como a de perceber e se identificar, com vulnerabilidades e/ou a forças um da outra. Receios, angústias, pequenas conquistas ou derrotas, aspirações, desilusões, pequenas alegrias e tristezas. Parece que esse espaço que ele não ocupa serve como forma de aproximação da própria moça, uma aproximação diferente da que aconteceria se ele fosse ativo.

A despedida dos dois é tocante, inclusive com o fator de que o cara que toma a iniciativa de ir atrás da moça para dela despedir. Como pode esse curto espaço de tempo de relacionamento resultar em tal emoção na despedida? Talvez Platão saberia responder isso se estivesse vivo. Além dos encantos visíveis um do outro, houve ali trocas de afeto e de belezas da alma – que o filósofo julga superiores eroticamente; atitudes, gestos, generosidades, disposições. Acima de tudo, cada um vislumbrou ali modos de viver mais desejáveis do que os seus antigos. E isso, segundo Platão é fruto de uma experiência erótica de contemplação do belo.

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