Bolero, A Melodia Eterna

Fui ver no Festival de Cinema Francês no Belas Artes, em BH.

O Bolero, A Melodia Eterna, é uma cinebiografia muito interessante de Ravel. O filme mostra como ele trabalhava muito. Tentou ganhar uma importante distinção por 5 vezes, o que  nunca o impediu de continuar trabalhando e de ser bem-sucedido e famoso… Seus amigos, numa cena, fazem um brinde ao fracasso, pois o sucesso faz as pessoas ficarem contentes e menos inquietas. É uma poderosa mensagem, e cai muito bem no personagem, que, quando vê o Bolero ser tocado, não suporta porque o acha ruim, embora a dança é que está bem ridícula. Talvez ele achou a música ruim pela associação com a dança. É uma tragédia que joias da arte frequentemente se misturam a elementos que não merecem o mesmo nome. Os grandes artistas correm esse risco, principalmente porque dependem, às vezes, dessas “parcerias” para viver.

Ravel se mostra interessante por fugir aos padrões. Vai à fábrica ouvir seu som frenético e pede opinião a uma funcionária doméstica para se inspirar. Paga um programa com uma prostituta só para vê-la calçar lentamente as luvas. Não se interessa muito por sexo nem com sua íntima amiga. A vida e a sociedade são enriquecidas por artistas e pessoas que não se atêm ao utilitarismo, ou a experiências padronizadas. Estamos vivendo numa época que exalta as exceções, mas não podemos esquecer a razão de ser das mesmas: completar o sentido das leis.

A música de Ravel era bastante sofisticada. É muito curioso que a música dele mais tocada no mundo seja das mais singelas. Ao final da vida ele comenta que nunca compôs de acordo com sua vontade, mas por encomendas, como a da bailarina que resultou no Bolero. Talvez isso seja simplesmente uma vaidade vazia. Certamente ele imprimiu seu interior em suas obras encomendadas. A música mais famosa de Ravel é uma prova de que não importa tanto o “pretexto” para o trabalho e a luta, quando se tem motivação interior de contribuir para o mundo.

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